Decisão do Fed abre espaço para queda de juros
- Por Wellton Máximo – Repórter da Agência Brasil* – Brasília
Sob expectativa em relação ao impacto do coronavírus sobre a inflação, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) abre hoje (17) a segunda reunião do ano para definir a taxa Selic, atualmente em 4,25% ao ano. O avanço da doença e a instabilidade do mercado financeiro na última semana aumentaram a expectativa de queda dos juros bâsicos da economia.
A nova taxa Selic será anunciada amanhã (18) no início da noite. A maioria das instituições financeiras consultadas pelo boletim Focus do BC prevê um corte da Selic, que está no menor nível da história, para 4% ao ano agora. Os analistas de mercado projetam uma nova redução para 3,75% antes do fim do ano.
Até a semana passada, as instituições apostavam na manutenção da Selic, mesmo com a queda da bolsa e a alta do dólar. No entanto, a decisão do Federal Reserve, o Banco Central norte-americano, de zerar os juros básicos da maior economia do planeta no último domingo (15) abriu espaço para novos cortes no Brasil.
Parte dos analistas apostava num possível aumento da Selic. Isso porque a forte alta do dólar e a queda da bolsa nos últimos dias fez a curva de juros no mercado futuro subir. A ação do Fed e de outros Bancos Centrais de economias avançadas, que tambêm reduziram os juros básicos, reverteu as expectativas.
Há quase duas semanas, quando as turbulências no mercado financeiro começaram a se intensificar, o BC emitiu um comunicado no qual informou que compararia os efeitos da desaceleração da economia e da deterioração dos ativos financeiros sobre a inflação antes de tomar uma decisão sobre a Selic. Segundo o texto, a autoridade monetária avaliava que a baixa demanda prevalecia, o que impediria o repasse da alta do dólar para os preços. Algumas instituições financeiras interpretaram a nota como uma indicação de que os juros poderão baixar na próxima reunião.
O Copom reúne-se a cada 45 dias. No primeiro dia do encontro são feitas apresentações técnicas sobre a evolução e as perspectivas das economias brasileira e mundial e o comportamento do mercado financeiro. No segundo dia, os membros do Copom, formado pela diretoria do BC, analisam as possibilidades e definem a Selic.
O Banco Central atua diariamente por meio de operações de mercado aberto – comprando e vendendo títulos públicos federais – para manter a taxa de juros próxima ao valor definido na reunião.
A Selic, que serve de referência para os demais juros da economia, é a taxa média cobrada em negociações com títulos emitidos pelo Tesouro Nacional, registradas diariamente no Sistema Especial de Liquidação e de Custódia.
Ao definir a Selic, o Copom considera as alterações anteriores nos juros básicos suficientes para chegar à meta de inflação, objetivo que deve ser perseguido pelo BC.
Ao reduzir os juros básicos, a tendência é diminuir os custos do crédito e incentivar a produção e o consumo. Entretanto, as taxas de juros do crédito não caem na mesma proporção da Selic. Segundo o BC, isso acontece porque a Selic é apenas uma parte do custo do crédito.
Para cortar a Selic, a autoridade monetária precisa estar segura de que os preços estão sob controle e não correm risco de ficar acima da meta de inflação.
Quando o Copom aumenta a Selic, a finalidade é conter a demanda aquecida, e isso causa reflexos nos preços porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança.
A meta de inflação, definida pelo Conselho Monetário Nacional, é 4% em 2020, 3,75% em 2021 e 3,50% em 2022, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
Histórico
De outubro de 2012 a abril de 2013, a taxa Selic foi mantida em 7,25% ao ano e passou a ser reajustada gradualmente até alcançar 14,25% em julho de 2015. Nas reuniões seguintes, a taxa foi mantida nesse nível.
Em outubro de 2016, foi iniciado um longo ciclo de cortes na Selic, quando a taxa caiu 0,25 ponto percentual, para 14% ao ano.
Esse processo durou até março de 2018, quando a Selic chegou ao seu mínimo histórico, 6,5% ao ano, e depois disso foi mantida pelo Copom até julho do ano passado. De lá para cá, o comitê reduziu os juros básicos quatro vezes, até a taxa chegar aos atuais 4,25% ao ano.
*Colaborou Kelly Oliveira